segunda-feira, 8 de março de 2010

Personagens de Felizmente Há Luar

Manuel- representante da situação e aspirações do povo, é a ele que cabe a abertura dos dois actos, num monólogo que mostra a impotência do povo, para além da situação de miséria.

Rita- mulher de Manuel (2ºacto).

Antigo soldado- manifesta uma opinião favorável, como representante do povo e como militar, sobre o general Gomes Freire de Andrade.

António de Sousa Falcão- amigo do general, surge a demonstrar a Matilde a inutilidade de continuar a resistir à fatalidade, acabando por ser convencido do contrário.

Vicente- traidor do povo, revela as suas motivações na conversa com os polícias antes de se encontrar com o governador Miguel Forjaz; odeia o povo a que pertence pela imagem que lhe dá de si próprio. Saber-se-á no 2º acto que a recompensa da traição é um lugar de chefe da polícia.

Andrade Corvo e Morais Sarmento- oficiais do exército que esperam uma recompensa material da sua traição; disfarçam a sua ambição com uma suposto patriotismo que será ironicamente comentado por Beresford.

Beresford- oficial inglês com a tarefa de reorganizar o exército, revela um profundo desprezo pelos portugueses; é um mercenário a quem apenas interessa o que ganha nessa tarefa, manifestando o receio de que Gomes Freire de Andrade possa vir a substituí-lo se houver alterações políticas.

Miguel Pereira Forjaz- governador do reino, defende uma organização social que perpetue os privilégios da nobreza; mostra uma grande aversão pelo general, seu primo, que lhe é superior moralmente e na carreira militar.

Principal Sousa- representante do poder religioso, demonstra a profunda hipocrisia de valores religiosos subordinados ao poder político e económico; também confessa sentimentos pessoais de aversão ao general, que teria prejudicado um seu primo. De qualquer forma, a alteração da situações fá-lo-ia perder os privilégios e poder que detém.

Frei Bento- surge apenas na cena em que Matilde procura a ajuda do Principal Sousa, para representar, por contraste, a verdadeira religiosidade.

Gomes Freire de Andrade – figura omnipresente apesar da sua ausência, já que não surge em cena, o General é caracterizado pelas personagens que sucessivamente se lhe vão referindo como um brilhante militar e condutor de homens, um homem justo, bondoso e amado pelo povo, um bom marido e alguém que nunca se preocupou com bens materiais; é invejado e temido pelos que detêm o poder.

Matilde – mulher de Gomes Freire de Andrade, personagem dominante no segundo acto.
Felizmente Há Luar

A peça Felizmente Há Luar, de Luís de Sttau Monteiro é fundamentalmente uma obra de reflexão sobre situações de repressão política, nomeadamente a da época da ditadura salazarista em que a obra é escrita. O tempo histórico representado é o da revolta liberal frustrada de 1817, tendo como figura principal o general Gomes Freire de Andrade; no entanto, a acção remete sistematicamente para a situação política dos anos 60 em Portugal, por um paralelismo de situações que a própria concepção de teatro torna impossível de ignorar pelo espectador.
De facto, a peça obedece a uma concepção de teatro épico, defendida por Brecht em oposição a um teatro de tipo aristotélico que levaria o espectador a identificar-se e a sofrer com as personagens; no teatro brechtiano, deveria ser produzido um efeito de distanciamento crítico que levasse o espectador a reflectir sobre as situações expostas e a relacioná-las com o seu próprio quotidiano. Para conseguir esse distanciamento, as falas das personagens de Felizmente Há Luar são construídas de forma a serem facilmente relacionadas com o momento da representação, sendo constantemente reforçadas, nas didascálias, por indicações cénicas ou de atitudes das personagens que intensificam essa relação; como exemplo, os monólogos de Manuel no início de cada acto, apresentando a situação do povo como uma constante histórica e sublinhados por indicações de gestos que alarguem essa situação aos próprios espectadores como se eles fossem também personagens da peça, ou o discurso de manutenção do poder e de bens materiais do Principal Sousa, reforçado por indicações cénicas de um vestuário luxuoso.
Assim, a obra funciona como uma alegoria em que os diversos grupos de personagens em jogo na peça representam estratos e grupos sociais da ditadura salazarista, colocando assim em cena a situação de miséria e repressão dos anos 60.