segunda-feira, 19 de abril de 2010

ESCOLA SECUNDÁRIA D: MARIA II

Ficha de trabalho de Língua Portuguesa
12º Ano
Docente – Maria Paula Lago



(Rita sai. Surge, a meio do palco, intensamente iluminada e sentada numa cadeira tosca, Matilde de Melo - uma mulher de meia-idade, vestida de negro e desgrenhada.)

Está a falar sozinha. Já o estava, possivelmente, antes de surgir no palco.

MATILDE

_ Ensina-se-lhes que sejam valentes, para um dia virem a ser julgados por covardes!
Ensina-se-lhes que sejam justos, para viverem num Mundo em que reina a injustiça!
Ensina-se-lhes que sejam leais, para que a lealdade, um dia, os leve à forca!
(Levanta-se)
_ Não seria mais humano, mais honesto, ensiná-los, de pequeninos, a viverem em paz com a hipocrisia do mundo?
(Pausa)
_ Quem é mais feliz: o que luta por uma vida digna e acaba na forca, ou o que vive em paz com a sua inconsciência e acaba respeitado por todos?

(Encaminha-se para uma cómoda velha que surge, iluminada, à sua esquerda)


_ Se o meu filho fosse vivo, havia de fazer dele um homem de bem, desses que vão ao teatro e a tudo assistem, com sorrisos alarves, fingindo nada terem a ver com o que se passa em cena!
(Pausa)

Fala com determinação. Está a tentar convencer-se a si mesma.

_ Havia de lhe ensinar a mentir, a cuidar mais do fato que da consciência e da bolsa do que da alma.
(Abre uma gaveta da cómoda e tira dela um uniforme velho de Gomes Freire)
_ Se o meu filho fosse vivo... Havia de morrer de velhice e de gordura, com a consciência tranquila e o peito a abarrotar de medalhas!
(Coloca o uniforme de Comes Freire sobre a cadeira)
_ Tudo isso o meu homem poderia ter tido...

Olha para o uniforme dando a entender que já não estava a falar do filho, mas do próprio Gomes Freire.
(Acaricia o uniforme)

_ Se tivesse sido menos homem...
(Pausa)
_ Podíamos estar, agora, aqui, ouvindo os pregões que soam a cantigas, lá fora, na rua...
(Pausa)
_ Abríamos a janela ao sol da manhã e aquecíamo-nos os dois...
(Pausa)
_ Ele dava-me a mão, eu dava-lhe a minha, e ficávamos, para aqui, a conversar...
Falávamos das batalhas em que ele andou...
Relembrávamos o nosso hotel de Paris... os passeios que dávamos ao longo do Sena... os dias felizes que passámos juntos... o tempo em que sonhávamos voltar a esta malfadada terra...
(Passa a mão pelo uniforme com ternura)
_ Podíamos viver aqui esquecidos dessa gente que o odeia.
(Encaminha-se para a esquerda do palco)
_ Era tão fácil... Tão mais fácil que tudo isto...
(Faz o gesto que fecha uma janela)
_ Fechávamos as janelas. Trancávamos a porta. Era como se estivéssemos outra vez lá fora, longe das intrigas mesquinhas em que esta gente se perde e perde a vida...
(Pausa)
_ Mas não pode ser e, agora estou sozinha. Sozinha e rodeada de inimigos numa terra hostil a tudo o que é grande, numa terra onde só cortam as árvores para que não façam sombra aos arbustos...
(Começa a chorar)


[…]
I

Lê atentamente o excerto de Felizmente Há Luar transcrito e efectua as tarefas abaixo propostas.
(o texto em intercalado reproduz as indicações cénicas que se encontram nas margens do texto, o texto entre parênteses reproduz as didascálias)

1. Localiza o excerto na estrutura interna da obra, justificando a tua resposta com dados do excerto apresentado.

2. Caracteriza a personagem do General Gomes Freire de Andrade, com base no discurso de Matilde.

3. Comenta o modo como o discurso de Matilde demonstra a impossibilidade um homem como o General viver em Portugal .

II

1. Comenta a didascália e a indicação cénica que introduzem o monólogo de Matilde (linhas 1 a 8).

III

Felizmente Há Luar, peça de teatro cujo ambiente é o do período que antecede o liberalismo, estabelece um paralelo entre esse período a ditadura salazarista. Num texto de 80 a 120 palavras, comenta a forma como se torna possível esse paralelo.

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