terça-feira, 18 de maio de 2010

Alberto Caeiro

Alberto Caeiro, metaforicamente pastor, cujas habilitações literárias não vão além da instrução primária, é o poeta da simplicidade da natureza, do real e do objectivo, dos sentidos por excelência; recusa a intelectualização da poesia por considerar que a relação com o real se efectua apenas através dos sentidos, sobretudo o da visão (não pensa, ou melhor, pensa vendo) – intelectualizar é uma operação que pressupõe falar de si próprio e não da realidade que o rodeia. É um pagão cujo animismo panteísta implica um estatuto de igualdade com os outros elementos da natureza, embora confesse por vezes não ser tão natural como quereria, não resistindo à tentação da abstracção. Utiliza uma linguagem simples, ligada ao real físico (muito particularmente por via do campo lexical da Natureza), oralizante e marcada por vocabulário essencialmente denotativo e ligado à percepção física, em verso irregular que reproduz o simples fluir do pensamento. É um anti-metafísico que aceita o mundo tal qual ele é, sem o questionar.

Sem comentários:

Enviar um comentário