terça-feira, 18 de maio de 2010

Saudosismo e sebastianismo no início do século XX

Nos finais do século XIX e inícios do século XX, assiste-se a uma reacção nacionalista de alguns sectores da cultura e literatura portuguesas, como tentativa de resposta a vários factores sociais, culturais e políticos que tinham em comum a degradação da imagem do país: a humilhação do Ultimato e a partilha de África – fazendo perder à burguesia as esperanças de grandeza e riqueza oriundas do Ultramar – levam a uma evocação do glorioso passado nacional; no campo literário esta reacção traduz-se sobretudo pela recusa de submissão a modelos estrangeiros como os que vinham gradualmente a impor-se em Portugal, como era o caso do realismo, do simbolismo ou do parnasianismo. Os objectivos deste movimento eram essencialmente prosseguir o percurso iniciado por Garrett ao ressuscitar uma literatura de fundo e forma nacionais (daí o nome de neo-garrettismo para um movimento que também foi conhecido como nacionalismo ou tradicionalismo); preconiza-se portanto a objectivação e louvor da História de Portugal, das paisagens nacionais, da simplicidade do viver rural e da mentalidade do povo, devendo a literatura reflectir a cultura genuinamente portuguesa e evitar a sua adulteração.
Na esteira deste movimento nacionalista pode notar-se, logo após a proclamação da República, a “Renascença Portuguesa”, sociedade literária fundada no Porto por Teixeira de Pascoaes, Jaime Cortesão, Álvaro Pinto e Leonardo Coimbra, tendo como órgão de comunicação a revista A Águia, de que Teixeira de Pascoaes é director na sua segunda série. Pascoaes desenvolve uma filosofia ético-psicológica da raça lusa, elo de ligação entre o passado e o futuro. Observando a literatura culta e a literatura popular do passado, Pascoaes detecta uma atitude típica do português perante a vida: a saudade que faz reagir o homem, que o faz sofrer por se sentir imperfeito, que o leva a desejar a pura vida espiritual e à realização daquilo que ainda não foi conseguido – é uma nostalgia do que se deseja ter ou ser.
A Águia apresenta como principais tendências o saudosismo, movimento literário que considera a saudade – sustentáculo do ser contingente, aquilo que o activa - a principal característica do povo português, considerando que o momento presente mal existe: vivemos do passado que já foi e do futuro que está para vir; vive-se do passado pela lembrança e do futuro pela esperança; o simbolismo, que se pauta sobretudo pelo distanciamento do real e pela análise de cambiantes sensoriais e afectivos, repudiando o lirismo da confissão directa ao estilo romântico; o sebastianismo, mito gerado em volta da figura de D. Sebastião, cujo regresso simbólico se associa a um elevado destino a cumprir; e o neo-garrettismo.

Sem comentários:

Enviar um comentário