terça-feira, 18 de maio de 2010

Fernando Pessoa ortónimo

Entre as características de Fernando Pessoa ortónimo, é de assinalar a utilização do fingimento poético, da imaginação que funciona como uma das principais dimensões da sua poesia, visível em composições como “Isto” ou “Autopsicografia. A criação poética obedece no ortónimo a uma análise e intelectualização quase obsessivas da sensação, transformando as emoções em puras vibrações intelectuais e revelando um poeta anti-sentimentalista, podendo tal detectar-se em poemas como “Isto” ou “Não sei quantas almas tenho”. A poesia do ortónimo é portanto marcada pelo choque entre o que sente e o que pensa, entre o sentimento e a sua expressão racional, levando a que o poeta sinta e exprima uma profunda dor de pensar, visível em poemas como “Ela canta, pobre ceifeira”. O choque entre pensar e sentir, o fingimento poético e a obsessão da análise racional originam um “eu” fragmentado, dividido nessas e noutras dimensões: o poeta sente-se múltiplo e assinala as diversas facetas do seu “eu” em composições como “Não sei quantas almas tenho”. Esta poesia manifesta as suas contradições de conteúdo por um frequente recurso à antítese, ao paradoxo e ao oxímoro, presentes sobretudo nos últimos versos dos poemas, exprimindo assim a ideia de que não é possível conciliar de forma lógica todas essas dimensões.

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